Ocupação de leitos segue alta, mas ônibus voltam a encher em SP
Dados de leitos e passageiros de ônibus são preocupantes. Mesmo assim, governo de SP insiste em reabertura
No início de abril, pico da segunda onda da pandemia no Brasil, o número de pacientes em leitos de UTI para covid-19 chegou a mais de 13 mil no estado de São Paulo. Após alguns dias, esse número começou a cair.
Considerando que a pandemia estava começando a arrefecer, o governo de São Paulo se apressou para reabrir comércios e serviços.
Mas o número de pacientes em UTI está caindo muito mais devagar. Desde 14 de março, não houve um único dia com menos de 10 mil pacientes em UTIs para covid-19 no estado. Em comparação, em julho de 2020, pico da primeira onda no Brasil, houve no máximo cerca de 6,2 mil pacientes em UTIs covid-19 no estado de SP.
Isolamento segue caindo
Os dados de passageiros de ônibus da cidade de São Paulo mostram que o isolamento social está diminuindo, mesmo com número de pacientes em UTIs que segue elevado.
Em junho de 2020, eram cerca de 2.600 pacientes em UTIs covid-19 na cidade de São Paulo, enquanto os ônibus municipais transportavam 2 milhões de passageiros por dia. Agora, são cerca de 3.500 pacientes em UTIs (35% a mais), enquanto os ônibus transportam 4 milhões de passageiros por dia (100% a mais).
Os riscos da reabertura em cima de uma possível terceira onda
Especialistas têm alertado para os possíveis riscos de uma reabertura enquanto seguimos com números tão altos de internações.
Desde o começo da pandemia, São Paulo e outros estados criaram um número considerável de leitos de UTIs covid. Isso permitiu que o sistema de saúde não colapsasse completamente em SP, mesmo com uma segunda onda mais violenta do que a primeira.
No entanto, se tivermos uma nova onda agora, com uma aceleração das internações similar a que tivemos em março e abril deste ano, poderá ser impossível criar leitos de UTI para acompanhar essa demanda. Além disso, leitos de UTI são muito mais do que somente os leitos em si, e dependem de profissionais, insumos e medicamentos, todos os quais já apresentaram escassez durante a segunda onda.
Flexibilizar as restrições agora, com uma taxa de vacinação ainda tão baixa e sem uma política eficiente de testagem e isolamento, é arriscar uma terceira onda que poderá ser ainda pior que a segunda.
Dados e metodologia aberta
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Bernardo Loureiro é urbanista, especializado em mapeamento, análise e visualização de dados. É criador do laboratório de visualização urbana Medida SP.