Ocupação de leitos segue alta, mas ônibus voltam a encher em SP

Dados de leitos e passageiros de ônibus são preocupantes. Mesmo assim, governo de SP insiste em reabertura

Bernardo Loureiro | Medida SP
3 min readMay 13, 2021

No início de abril, pico da segunda onda da pandemia no Brasil, o número de pacientes em leitos de UTI para covid-19 chegou a mais de 13 mil no estado de São Paulo. Após alguns dias, esse número começou a cair.

Considerando que a pandemia estava começando a arrefecer, o governo de São Paulo se apressou para reabrir comércios e serviços.

Mas o número de pacientes em UTI está caindo muito mais devagar. Desde 14 de março, não houve um único dia com menos de 10 mil pacientes em UTIs para covid-19 no estado. Em comparação, em julho de 2020, pico da primeira onda no Brasil, houve no máximo cerca de 6,2 mil pacientes em UTIs covid-19 no estado de SP.

Pacientes em UTI, estado de São Paulo

Isolamento segue caindo

Os dados de passageiros de ônibus da cidade de São Paulo mostram que o isolamento social está diminuindo, mesmo com número de pacientes em UTIs que segue elevado.

Em junho de 2020, eram cerca de 2.600 pacientes em UTIs covid-19 na cidade de São Paulo, enquanto os ônibus municipais transportavam 2 milhões de passageiros por dia. Agora, são cerca de 3.500 pacientes em UTIs (35% a mais), enquanto os ônibus transportam 4 milhões de passageiros por dia (100% a mais).

Pacientes em UTI e passageiros de ônibus, cidade de São Paulo

Os riscos da reabertura em cima de uma possível terceira onda

Especialistas têm alertado para os possíveis riscos de uma reabertura enquanto seguimos com números tão altos de internações.

Desde o começo da pandemia, São Paulo e outros estados criaram um número considerável de leitos de UTIs covid. Isso permitiu que o sistema de saúde não colapsasse completamente em SP, mesmo com uma segunda onda mais violenta do que a primeira.

No entanto, se tivermos uma nova onda agora, com uma aceleração das internações similar a que tivemos em março e abril deste ano, poderá ser impossível criar leitos de UTI para acompanhar essa demanda. Além disso, leitos de UTI são muito mais do que somente os leitos em si, e dependem de profissionais, insumos e medicamentos, todos os quais já apresentaram escassez durante a segunda onda.

Flexibilizar as restrições agora, com uma taxa de vacinação ainda tão baixa e sem uma política eficiente de testagem e isolamento, é arriscar uma terceira onda que poderá ser ainda pior que a segunda.

Dados e metodologia aberta

Acesse no Github os dados e metodologia completa da análise.

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Bernardo Loureiro é urbanista, especializado em mapeamento, análise e visualização de dados. É criador do laboratório de visualização urbana Medida SP.

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